sábado, 18 de janeiro de 2014

OPINIÃO: As repúblicas de Ouro Preto e o distanciamento de si mesmas: o caso do carnaval 2014 (Por Otávio Luiz Machado, ex-aluno Jaka)

As repúblicas de Ouro Preto e o distanciamento de si mesmas: o caso do carnaval 2014
Otávio Luiz Machado (ex-aluno Jaka)

         Como qualquer ex-aluno que possui a mais alta consideração com as repúblicas de Ouro Preto, então é natural que, ao ver uma matéria em rede nacional produzida pela principal rede televisiva do País falando dessas casas, de imediato fosse utilizar aquilo que sempre gosto de fazer para tentar acrescentar algo: escrever e ajudar no debate.
         A matéria da Globo no Jornal Nacional do dia 18 de janeiro de 2014 não foi parcial, pois mostrou todos os lados da questão, inclusive demonstrando que a situação em questão prejudica a conservação dos imóveis das repúblicas e afeta na vinda de diversos turistas para a cidade de Ouro Preto no carnaval.



         Também trouxe dados que podem ajudar na defesa das repúblicas, considerando que os hotéis de Ouro Preto não possuem leitos suficientes para atender a demanda de turistas e nem preço compatível com às expectativas (bolsos) dos que querem passar um carnaval em Ouro Preto.
         O fato é que a situação está na esfera judicial, pois a associação dos hotéis está impedindo as repúblicas estudantis da UFOP de realizar o seu carnaval nos padrões já estabelecidos durante vários anos, que em suma mata uma parte do carnaval da própria cidade de Ouro Preto.
         Antes de prosseguir nos meus argumentos, também gostaria de questionar alguns aspectos falhos das próprias repúblicas estudantis de Ouro Preto, que há cerca de um ano para cá descem ladeira (como vários blocos carnavalescos) abaixo sem nenhum grau de recuperação nessa descida. A teimosia em continuar a utilizar os mesmos argumentos quando o assunto é a perda total de sua autonomia ajuda a sustentar esse descarrilamento crescente, porque muitos ainda pensam que a solidez de uma tradição, o peso dos ex-alunos da defesa das repúblicas e a estrutura existente do sistema de repúblicas NUNCA deixarão de fornecer elementos e bases para a continuidade das repúblicas.
No final do ano passado mais uma vez deu para perceber o desinteresse do conjunto das repúblicas de Ouro Preto quando o assunto é de seu interesse. Foi num evento promovido pela UFOP, quando foi possível contar nos cinco dedos de uma das mãos os que estiveram ali para participar. Mas os exemplos nesse sentido podem ser dados aos milhares quando o assunto é a apatia, o desinteresse e o descaso quando se precisam ter repúblicas representadas nos mais diversos espaços e iniciativas.








 No debate que pode ser visualizado acima, o que se vê são os próprios colegas estudantes questionando as repúblicas de Ouro Preto num tom muito forte. Aconteceu no dia 05 de dezembro de 2013 dentro do PROGRAMA SOU MAIS JUVENTUDE DA UFOP.



Se as repúblicas estudantis de Ouro Preto nem se interessam em defender/debater dentro do próprio território universitário, é óbvio que fora desse território o exercício que poderia ter sido praticado nos espaços universitários ajudaria a enfrentar as coisas com mais sutileza, criatividade, pró-atividade e com muito mais sucesso. Mas as repúblicas enfrentam esses debates com pouco interesse e muita arrogância. Eis o motivo de que as repúblicas estão perdendo o discurso em sua própria defesa a cada dia. Nem tantos ex-alunos se empolgam mais em defender as repúblicas em situações complicadas ... Só os rocks parecem ser o foco dos republicanos e ex-alunos, porque quando a questão é gerar interesse em correr atrás de um marketing positivo para as repúblicas seja onde ele estiver, o que se vê é o descaso quase completo. 
No final do debate do Sou Mais Juventude, o que se ouviu após a fala de vários moradores das repúblicas de Mariana que criticavam as repúblicas de Ouro Preto  também foram questionamentos sobre as próprias repúblicas de Mariana, pois elas também possuem distorções e problemas como qualquer outra república. Aí o debate foi fortalecido, gerou compreensões sobre toda a questão e certamente vai ajudar a todos a enfrentar as dificuldades universitárias, considerando que o ponto da HUMANIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE precisa permear o debate que trata das necessidades humanas. 
Talvez a expressão que diz que é preciso dar um passo para trás para se poder dar um para frente se aplica nessa hora em que as repúblicas vivem uma situação mais uma vez desfavorável. É preciso fazer uma análise crítica e profunda sobre o que está acontecendo com as repúblicas de Ouro Preto, principalmente se quiser que novas gerações venham  morar em repúblicas da UFOP no futuro.
Não adiantar ficar criticando a associação dos estabelecimentos hoteleiros de Ouro Preto, porque eles ali estão lutando pelos seus interesses, o que é legítimo e precisa ser respeitado, sejamos favoráveis ou desfavoráveis.
Quando os interesses das repúblicas precisam estar representados, então quantos participam? Quantas repúblicas efetivamente lutam pelos interesses reais das repúblicas nos mais diversos espaços e momentos durante o decorrer de cada ano? Ou o interesse é despertado só quando as coisas não saem como deveriam sair? Quem sabe que o CAEM vai fazer 100 anos em 2015? O que vai ser feito a favor dos estudantes de Ouro Preto para aproveitar esse momento especial e criar um marketing positivo para que as pessoas reconheçam e conheçam iniciativas brilhantes criados pelos próprios estudantes?
Se não se fez o dever de casa, é possível que vir reclamar agora fica parecendo coisa de mercenário, que só age quando o sapato começa a ficar apertado e quer criar uma situação para se sair bem e  tirar algum proveito diante de tudo que vivenciou.
Essa situação de conservação do patrimônio histórico com o uso de recursos de turistas é altamente questionável, embora pode-se considerar que é um paliativo que vem dando muito certo. Se os imóveis são da União, logo é a própria União quem deveria prover os recursos orçamentários para a conservação dos imóveis, que seria o argumento trazido por muitos aí mundo afora.
Já passou a hora de mudar o tom da conversa, porque a batalha do momento deveria ser pelo registro dos cerimoniais acadêmicos, das festas republicanas, do linguajar característico de quem mora nas repúblicas e de tantos outras marcas da vida republicana como PATRIMÔNIO IMATERIAL.
Só com o reconhecimento internacional e uma espécie de certificação que as repúblicas poderão enfrentar essa e as novas batalhas que virão. O que seria um tipo de imunidade contra qualquer oportunismo do setor a, b, c ou z que deixem as repúblicas em maus lençóis. Aí sim haveria o reconhecimento do carnaval dos estudantes e repúblicas de Ouro Preto e a compreensão de sua relevância cultural, que nenhum tribunal do mundo agiria para impedir, bloquear ou matar, pois estaria cometendo ilegalidades. 
Eu particularmente já deixei minha singela contribuição com a reconstituição histórica das repúblicas estudantis, dos movimentos juvenis e de outros temas que tratam de Ouro Preto-MG em diversos trabalhos publicados.
Toda a produção acadêmica que virá em seguida vai precisar enfrentar essa questão do patrimônio imaterial, que é o ponto crucial para trazer novos elementos sobre as repúblicas de Ouro Preto.
E deixo tudo o que produzi em textos e livros para ajudar as repúblicas nessa longa tarefa de mudar a estratégia de preservação das repúblicas, que é o registro do patrimônio imaterial das repúblicas.
Que as pessoas acompanhem ao longo de 2014 as inúmeras novidades de publicações que poderão ser “baixadas” gratuitamente da Editora Prospectiva que tratam de Ouro Preto. São basicamente dois endereços:

Outros textos e livros estão espalhados pela rede internet, como é o caso desses aí:













Um comentário:

  1. Morei em Ouro Preto, em uma pequena república particular, apesar da briga entre Federais x Particulares da época, ainda assim eu DEFENDO a existência das repúblicas federais.

    São um caso diferente de qq outro lugar do país, mas tem grande valor para a formação pessoal/profissional/acadêmica dos estudantes da UFOP.

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