sábado, 16 de agosto de 2014

OPINIÃO: Eduardo Campos e as juventudes (Por Otávio Luiz Machado)


  Eduardo Campos e as juventudes

 Por Otávio Luiz Machado*


O dia 13 de agosto de 2014 foi o dia que marcou o fim trágico de um candidato à presidente da República que estava falando diretamente com as juventudes brasileiras. Eis que aparece Eduardo Campos aliando-se com a plataforma sustentável de Marina Silva com vigor e ganhando os corações e mentes de jovens despolitizados, desmobilizados e apáticos, mas também de jovens engajados em projetos sociais, partidários e culturais.

         Não que sua figura pública tivesse na sua ação política um crescente e contínuo casamento com as pautas e reivindicações das juventudes, porque o divórcio com os movimentos juvenis foi claramente percebido quando a PM de Pernambuco sob o seu comando promoveu vários atos violentos e não-aceitáveis, tendo a truculência substituído o diálogo em momentos que não foram poucos.

Como candidato, o que se percebe é que no seu discurso havia a voz da esperança, da indignação e da preocupação com o futuro do País. Da promessa do passe livre à educação em tempo integral, o candidato contemplava na sua plataforma eleitoral parcelas significativas das juventudes.

Se Eduardo Campos era marcado por uma contradição ambulante e que contrariava os que buscavam um projeto inovador e amarrado às questões socialistas, por outro lado demonstrava na prática governamental ações importantes no campo da educação em Pernambuco, como o projeto de intercâmbio propiciado aos estudantes da escola pública estadual, a expansão da educação superior na Universidade estadual, os inúmeros projetos da Secretaria de Juventude que contemplava associações e entidades juvenis, o que permitiu ao Estado a aprovação do primeiro plano estadual de juventude em todo o Brasil.

Também não foi desinteressante em sair na frente com a comissão da verdade estadual, o que beneficiou o resgate histórico e o reconhecimento das lutas sociais e políticas das juventudes de décadas passadas.

Por longo período do seu governo, também, o transporte público e sua facilidade para a vida dos jovens pernambucanos deixou a desejar. Ao deixar o movimento em torno do passe livre falando sozinho e vulnerável à ação da repressão, creio que foi um gesto de covardia por sua parte.

Pode-se dizer que Eduardo Campos cometeu vários erros com os jovens enquanto governador, mas é fundamental reconhecer que a sua política resgatou a dívida social com diversos setores jovens do Estado, inclusive é bom que se diga que em todas as secretarias havia uma forte presença de jovens gestores que faziam bonito na administração pública.

         Sua última entrevista ao vivo antes de sua morte foi enigmática: “não vamos abandonar o Brasil”. Seguida da mensagem do que se deve fazer hoje para que as futuras gerações possam ter um Brasil melhor. O que disse ali era o que estava faltando para as juventudes, num momento delicado da vida nacional. Era o candidato da esperança, só isso já conseguia produzir cidadania aos jovens, assim merecendo o espaço que estava tendo.

*É professor, pesquisador e editor. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

Abaixo algumas imagem que fizemos em vídeo de Eduardo Campos




quarta-feira, 13 de agosto de 2014

OPINIÃO: Um presente de grego no dia dos estudantes: mais uma vez as repúblicas estudantis de Ouro Preto


Um presente de grego no dia dos estudantes: mais uma vez as repúblicas estudantis de Ouro Preto

Otávio Luiz Machado*

 

No último 11 de agosto, que é comemorado o dia dos estudantes, o jornal O Tempo inaugurou um festival de denúncias genéricas sobre supostos estupros ocorridos em repúblicas estudantis de Ouro Preto, o que também podemos observar na edição do dia 13 de agosto.
 
 
 

Não se vê nos textos nenhuma reflexão sobre o que é ser estudante nos dias atuais, pois em três dias seguidos observam-se três páginas repletas do assunto estupro nas repúblicas (com direito a capa, títulos e conteúdos que ignoram a chamada presunção de inocência por parte dos citados).

O conjunto de matérias começou mal, pois ao evocar o princípio jornalístico de “ouvir” (pelo menos os dois lados), a matéria de antemão antecipava a possível verdade real dos fatos considerando só um dos lados na matéria. O que se viu foi um julgamento antecipado quando se iniciou afirmando o seguinte: “O Tempo ouviu depoimentos de estudantes estupradas em casas universitárias”. No mínimo a expressão “supostos estupros” deveria ser aplicada, pois não existe um processo legal concluído ao qual foi permitida a ampla defesa dos que são acusados pelas depoentes da matéria.

O desequilíbrio na palavra dada a acusados e acusadores é gritante, pois foi dado destaque à acusação sem a permissão da defesa se fazer presente com a mesma oportunidade, espaço, voz e vez. É preciso investigar os acontecimentos relatados, com certeza. Mas a presunção de inocência é algo que a lei garante, cabendo o ônus da prova a quem acusa. A isenção do jornalista que assina a matéria também deve ser questionada, porque do início ao fim dos textos percebemos que o autor quer simplesmente atacar gratuitamente as repúblicas puxando uma série de questões sem ao mínimo produzir argumentos a partir de dados precisos.

Quando termino de escrever o presente texto, o noticiário é marcado sobre a tragédia aérea que matou o presidenciável Eduardo Campos. A última frase pronunciada num programa de televisão ao vivo por Campos foi a seguinte: “não desistam do Brasil!'

Talvez a frase a ser aplicada nesse momento inspirada noutra que vai marcar a história política do Brasil seja a seguinte: “não desistam das repúblicas estudantis de Ouro Preto”! O que se espera dos ex-alunos é a solidariedade a quem está morando hoje nas casas que algum dia serviu de abrigo para si, pois para se morar em repúblicas estudantis em Ouro Preto atualmente – diante da generalização escandalosa dos que escrevem sobre as repúblicas sem nenhum compromisso em adotar princípios éticos mínimos – é preciso enfrentar uma barra grande. Não são poucos os que querem taxar os republicanos de privilegiados, egoístas, mercenários e até estupradores.

O conjunto de abordagens midiáticas que tratam superficialmente do significado social, educativo e cultural das repúblicas de Ouro Preto é imenso, como aconteceu na virada de 2013 para 2014, que esteve marcada pela insistente abordagem de veículos midiáticos que foram na onda de alguns representantes de hotéis espalhando para os quatro cantos que as repúblicas estudantis prejudicavam a economia da cidade por oferecer espaços de hospedagem a baixo custo aos turistas.

Não foi só decisão favorável às repúblicas estudantis que corrigiu uma das inúmeras injustiças contra os estudantes, principalmente a de que pregavam ser os espaços públicos das repúblicas transformados em comércios privados. No parecer de um juiz federal veio a correção de outra injustiça, que é corrente dos adversários das repúblicas estudantis ao divulgar que os estudantes moram de graça e não dão contrapartida para o que recebem da administração pública. O juiz foi ao ponto: “Os estudantes da UFOP não recebem a moradia gratuitamente".

O que se pede aos estudantes não é somente respeito. Também se pede a chance se ser compreendidos, ouvidos e considerados!

 

*É professor universitário e editor. É autor de diversas obras sobre a vida universitária de Ouro Preto e ex-aluno de república estudantil em Ouro Preto.  E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br