quarta-feira, 13 de agosto de 2014

OPINIÃO: Um presente de grego no dia dos estudantes: mais uma vez as repúblicas estudantis de Ouro Preto


Um presente de grego no dia dos estudantes: mais uma vez as repúblicas estudantis de Ouro Preto

Otávio Luiz Machado*

 

No último 11 de agosto, que é comemorado o dia dos estudantes, o jornal O Tempo inaugurou um festival de denúncias genéricas sobre supostos estupros ocorridos em repúblicas estudantis de Ouro Preto, o que também podemos observar na edição do dia 13 de agosto.
 
 
 

Não se vê nos textos nenhuma reflexão sobre o que é ser estudante nos dias atuais, pois em três dias seguidos observam-se três páginas repletas do assunto estupro nas repúblicas (com direito a capa, títulos e conteúdos que ignoram a chamada presunção de inocência por parte dos citados).

O conjunto de matérias começou mal, pois ao evocar o princípio jornalístico de “ouvir” (pelo menos os dois lados), a matéria de antemão antecipava a possível verdade real dos fatos considerando só um dos lados na matéria. O que se viu foi um julgamento antecipado quando se iniciou afirmando o seguinte: “O Tempo ouviu depoimentos de estudantes estupradas em casas universitárias”. No mínimo a expressão “supostos estupros” deveria ser aplicada, pois não existe um processo legal concluído ao qual foi permitida a ampla defesa dos que são acusados pelas depoentes da matéria.

O desequilíbrio na palavra dada a acusados e acusadores é gritante, pois foi dado destaque à acusação sem a permissão da defesa se fazer presente com a mesma oportunidade, espaço, voz e vez. É preciso investigar os acontecimentos relatados, com certeza. Mas a presunção de inocência é algo que a lei garante, cabendo o ônus da prova a quem acusa. A isenção do jornalista que assina a matéria também deve ser questionada, porque do início ao fim dos textos percebemos que o autor quer simplesmente atacar gratuitamente as repúblicas puxando uma série de questões sem ao mínimo produzir argumentos a partir de dados precisos.

Quando termino de escrever o presente texto, o noticiário é marcado sobre a tragédia aérea que matou o presidenciável Eduardo Campos. A última frase pronunciada num programa de televisão ao vivo por Campos foi a seguinte: “não desistam do Brasil!'

Talvez a frase a ser aplicada nesse momento inspirada noutra que vai marcar a história política do Brasil seja a seguinte: “não desistam das repúblicas estudantis de Ouro Preto”! O que se espera dos ex-alunos é a solidariedade a quem está morando hoje nas casas que algum dia serviu de abrigo para si, pois para se morar em repúblicas estudantis em Ouro Preto atualmente – diante da generalização escandalosa dos que escrevem sobre as repúblicas sem nenhum compromisso em adotar princípios éticos mínimos – é preciso enfrentar uma barra grande. Não são poucos os que querem taxar os republicanos de privilegiados, egoístas, mercenários e até estupradores.

O conjunto de abordagens midiáticas que tratam superficialmente do significado social, educativo e cultural das repúblicas de Ouro Preto é imenso, como aconteceu na virada de 2013 para 2014, que esteve marcada pela insistente abordagem de veículos midiáticos que foram na onda de alguns representantes de hotéis espalhando para os quatro cantos que as repúblicas estudantis prejudicavam a economia da cidade por oferecer espaços de hospedagem a baixo custo aos turistas.

Não foi só decisão favorável às repúblicas estudantis que corrigiu uma das inúmeras injustiças contra os estudantes, principalmente a de que pregavam ser os espaços públicos das repúblicas transformados em comércios privados. No parecer de um juiz federal veio a correção de outra injustiça, que é corrente dos adversários das repúblicas estudantis ao divulgar que os estudantes moram de graça e não dão contrapartida para o que recebem da administração pública. O juiz foi ao ponto: “Os estudantes da UFOP não recebem a moradia gratuitamente".

O que se pede aos estudantes não é somente respeito. Também se pede a chance se ser compreendidos, ouvidos e considerados!

 

*É professor universitário e editor. É autor de diversas obras sobre a vida universitária de Ouro Preto e ex-aluno de república estudantil em Ouro Preto.  E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

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